Archives

0

Amor pós-moderno e outras desconvenções

Isis Cardoso sábado, 3 de outubro de 2015

(dica pré-post: leia ouvindo Talking To The Moon, do Bruno Mars)

Eu sumi de novo, é. Eu nem sabia que ia voltar de novo um dia, mas é também.
Mas eu escrevi uma coisa que é tão a cara de quando eu punha a cara aqui que não resisti e resolvi postar. Mesmo que ninguém veja, ou uma pessoa só. Tanto faz. De qualquer forma, é bom me sentir em casa.

Ah, os tempos em que vivemos... Em um mundo em que a vida sem rótulos é uma utopia e todas as barreiras clamam para ser derrubadas, lida-se com um dilema de uma essencialidade universal da vida: o amor. Amamos de todas as maneiras, em todos os sentidos, mas as permanências de nosso pensamento ainda nos fazem julgar certos modelos de relação.

Queremos um mundo que transcenda a cor da pele, o credo da mente, a religião, a ideologia política, o sexo, o gênero (já convencionado em nossa sociedade como independente do sexo), a normatização de número de parceiros e até mesmo a distância, afinal, se trata de um mundo globalizado este em que vivemos, não é? O século XXI, o ponto mais crescente da produção do ser humano, onde a escala fordista assume até mesmo as produções intelectuais e as aquisições de ideologias com o mínimo de pesquisa e o máximo de informações. Fala-se muito em lutas de minorias, relações livres, poliamores, interracialismo – apesar de muito controverso e debatido – próximos a tabus do mundo contemporâneo como a apropriação cultural, a solidão transgênera e até mesmo o amor à distância.

Não cito as outras causas por algumas não ter lugar de fala em algumas e ainda ter formações de opinião em outras, ou seja, não quero me propor a equívocos. Escrevo do pouco que sei. Talvez com uma certa arrogância historiográfica adquirida na graduação – que, por sinal, é a classe mais subalterna da academia. Entretanto, sem academicismos e mais do que interessa: Qual a grande coisa do amor pós-moderno?

“Ah, mas perto de rLi[1], relacionamento à distância é moleza. Ninguém julga esse tipo de coisa hoje em dia, a globalização facilita muitas coisas” ENGANO SEU, interlocutor que pode – ou, mais provavelmente, pode ser imaginário – estar lendo este conglomerado de palavras. A globalização é real, está diante dos nossos olhos e permeando todo o nosso cotidiano, mas ainda assim, ainda é uma problemática falar de amor à distância. Você pode ter amigos à distância (sim, perfeitamente!), mas até eles vão tentar te dissuadir de se encantar cada vez mais profundamente e, por fim, se apaixonar por alguém que está à milhas de distância do sofazinho cor de esmalte nude encardido no qual você ouve canções de amor e olha o sorriso da pessoa amada na tela plana que está no seu colo... Nada disso. Logo jogam em face o cerne sexual da questão, o menor dos cafunés ou a falta de abraçar, sentir o cheiro da pele ou a respiração no seu rosto antes de um beijo apaixonado. “Você não pode, amor tem que ter contato”, “Você não pode, você tem que estar perto” dentre outras coisas. Amizade super pode, mas amor globalizado na era da globalização é um tabu maior até mesmo que o próprio sexo e suas colocações sociais.

Já disse David Bowie que “Deus e o homem não acreditam no amor moderno”[2], mas... o que será do amor pós-moderno neste mundo-cão onde a informação é para todos mas ninguém é de ninguém? Será a maior libertação de nosso tempo o ato revolucionário de se prender a algo tão abstrato e não-empírico que o amor pela certeza única do amor, mesmo que em um deslocamento espacial maior do que o capital pode cobrir? Será o amor pós-modernos o último dos paradigmas ou é só a distância mesmo?

Eu sei lá, cara. Teleologia é muito marxista para mim.

Talvez um dia eu volte aqui mais uma vez, mas ainda não sei.




[1] rLi: Relacionamento Livre
[2] BOWIE, D. “Modern Love”, 1983.

Dosador

mL
 
Copyright 2010 Um pequeno vírus